No meu
cicloturismo pelo litoral 2011 tive uma experiência nova pra mim, pra muitos
cicloturistas seria normal viajar sozinho, mas pra mim encarar momentos legais
e difíceis sem ter um parceiro foi no mínimo desafiador, mas encarar o novo é sempre
um aprendizado, e com os altos e baixos de encarar a estrada sozinho acho que criei
uma síndrome, que aliás muitos cicloturistas vão se identificar, vou chamar de
“Síndrome de Wilson”, acho que todo mundo lembra da famosa cena do filme “O
Náufrago” né, que faz da bola Wilson seu amigo.
Então, foi
naquele dia, 03 de maio de 2011, começava o 3º dia de viagem com minha parceira
oficial de cicloturismo Michelle Murta, era nossa 2ª viagem no litoral, quando
ela entra numa areia da praia e cai, não consegue desclipar a sapatilha e torce
o pé feio, resultado, teve que pegar um ônibus dali e ir embora pra casa, em um
momento me senti sem chão, mas resolvi encarar e continuar sozinho, pra mim um
grande desafio, ainda mais naquele dia que estava chuvoso, ventos, um tempo
feio, mas superei bem aquele dia e continuei a viagem, alguns dias depois, já
no estado do RJ na região dos lagos, foi aonde começou de fato a “Síndrome de
Wilson”.
Cheguei em
Barra de São João-RJ, um lugarzinho que me simpatizei bastante, um ar de paz,
liberdade, tranquilidade, e enterrado na areia ao meio de muitas conchas achei
um bonequinho, que apelidaria de Jah-Areias (Jah do reggae, paz, e Areias
porque veio das areias), falei pra mim mesmo, a partir de agora ele vai ser meu
parceiro até o final da viagem, encaixei ele na parte transparente do meu bag
de guidão e pegamos estrada, aonde passava também fazia questão dele aparecer
nas fotos, a partir dali não estava sozinho, parece loucura, mas um
cicloturista solitário na estrada às vezes necessita dessa companhia imaginária
pra não pirar, e logo a frente aconteceria um fato que se identificaria muito
com o filme “O Náufrago”.
Quando cheguei
em Ponta Negra-RJ me hospedei na casa de um chileno muito gente fina, tinha uma
janela grande no quarto, daquelas antigas de madeira que abre toda, e coloquei
o Jah-Areias ali na janela, mas não percebi que ele caiu lá fora, acordei e cedo
e sai pra continuar a viagem, depois de uns 7km sinto a falta do Jah-Areais,
não tenho dúvida, retorno na hora, não poderia deixar ele no meio do caminho, me
lembrou a cena do filme que ele não acha a bola e grita, “Wilsooon, Wilsooon...”,
rsrs, mas depois de procurar achei ele lá no chão, acomodei ele no lugar e
continuamos a viagem, e foi comigo até o final, hoje ele mora aqui no meu
quarto junto com vários outros bonecos que tenho.
Podem me
chamar de louco, de pirado, talvez seja mesmo, até porque quem sai com uma
bicicleta pra cruzar estradas, enfrentar chuva e sol, descobrir o novo, o
desconhecido, não seria muito normal mesmo, mas com certeza muito mais feliz
que uma pessoa que se julga normal e não tem a ousadia de se jogar no mundo, o
cicloturismo, a estrada, cada dia conhecer lugares novos, pessoas novas, culturas diferentes, viver dias meio de cigano,
não tem preço, é muito bom, receita pra longevidade.